25 de abril de 2024

Análise: a Ceni o que é de Ceni. Ainda questionado, técnico é determinante em arrancada do Flamengo

“A César o que é de César”. E a Ceni o que é de Ceni. A analogia ao trecho bíblico se faz pertinente para definir a voltar por cima do Flamengo no Brasileirão. Tão criticado e questionado (justamente) no início de 2021, o técnico rubro-negro ainda está longe de conquistar o coração do torcedor, mas tem muito mérito na disputa acirrada com o Inter a quatro rodadas do fim da competição.

Aos internautas apressados, isso não é uma passada de pano (tal qual nunca foi espaço para cancelamentos). Rogério ainda apresenta pragmatismo nas substituições e dificuldade na leitura de jogo em muitos momentos. Por outro lado, os treinos tão elogiados pelos jogadores começam a surtir efeito, e muito por boa dose de coragem do treinador em seu momento mais delicado no clube.

As cinco vitórias nos últimos seis jogos, com quatro sem sofrer gols, passam muito pela ousadia do comandante na tomada de decisão. Ao escalar Diego como titular a partir do duelo com o Goiás e recuar Willian Arão como volante na partida contra o Palmeiras, Ceni apostou em dois jogadores com pouca margem de erro para o torcedor, sabia que estava na corda bamba, e o “all in” deu certo.

O Flamengo, que sempre primou pela posse de bola, deu a cartada na qualidade técnica dos jogadores após perder para Fluminense e Ceará no Maracanã e voltou a se impor diante dos adversários. São 15 gols marcados, quatro sofridos e um futebol vistoso como há muito não se via.

Com Willian Arão, o Flamengo ganhou qualidade técnica e velocidade na zaga. Com Diego de volante, o passe ficou mais refinado e o time ganhou consistência na posse de bola. Com os dois juntos, o time ficou mais compacto, o campo mais curto e a marcação alta mais eficiente. Em resumo, um Flamengo que impõe para seus adversários como vai ser a partida enquanto tem fôlego.

Primeiro tempo de Flamengo x Vasco

 

  • Posse de bola: 71% x 29%
  • Finalizações: 10 x 0
  • Passes trocados: 292 x 120
  • Desarmes: 11 x 6

 

O 2 a 0 diante do Vasco, no Maracanã, teve todos esses componentes, e o acréscimo de uma formação que ganha corpo e sintonia. Os gols perdidos seguem sendo um problema. É impossível não pensar que em algum momento possam fazer falta. Mas o Flamengo apresenta fluidez e alternativas no campo adversário.

O time que rodava a bola sem saber muito o que fazer para furar bloqueios não faz muito tempo passou a apresentar repertório evidente. Algumas mudanças de posicionamentos reveladas pelo próprio Ceni após a virada sobre o Grêmio deram certo, permanecem e deixam os jogadores nitidamente confortáveis.

Gabriel e Bruno Henrique jogam mais próximos e com liberdade para movimentação. Arrascaeta abre mais para a esquerda, enquanto Filipe Luís volta a utilizar a técnica apurada pelo meio em alternância. Some isso ao campo reduzido pelos avanços das linhas que facilitam o perde / recupera rápido no setor ofensivo.

Um Flamengo “à Flamengo”, capaz de ter 71% de posse de bola, 10 finalizações contra nenhuma do Vasco, mais que o triplo de passes trocados (292 x 120) e 11 desarmes. Tudo isso em um primeiro tempo salvo graças ao gol de pênalti de Gabigol no fim. Lembram das chances desperdiçadas? É preciso corrigir para que não façam falta.

Na volta do intervalo, porém, um cenário repetido e que ajuda a explicar a resistência do torcedor ao treinador. Fosse pela postura de dar campo ao Vasco, fosse pelas mudanças repetidas, o Flamengo perdeu protagonismo, viu Hugo ser exigido e a estratégia dos contragolpes deu certo muito graças ao talento de Pedro e o oportunismo de Bruno Henrique.

O gol de cabeça decretou uma vitória justa bem no momento em que o Vasco se assanhava e fez os 15 minutos finais serem mais importantes para secar o Inter. Deu certo, e, a quatro rodadas do fim, o time de Rogério Ceni depende só de si para ser campeão.

A melhora é nítida, e a oscilação dentro de 90 minutos também. Com 12 pontos a serem disputados, o Flamengo vive sua melhor fase na temporada a caminho do octa, mas sem espaço para vacilar.